"Há casos que nunca se deslindam"

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Acha que o caso Maddie chegará a bom porto?

Eu, sinceramente, do caso Maddie conheço aquilo que vocês conhecem. É o que leio nos jornais. Não tenho nenhuma opinião formada porque não conheço, realmente, o processo. E como o que os jornais dizem, ou não dizem, depende muito das fontes de informação, que são sempre parcelares…

São sempre agentes de justiça…

E são sempre visões parcelares, quer se queira quer não. Por isso, não é possível eu formar uma opinião. Se tivesse uma opinião sobre esse assunto, ela reproduziria apenas essas informações parcelares que me chegam, não integradas num processo que é normalmente dialéctico, complexo. Correria o risco de estar a criar fenómenos de legitimação de qualquer decisão que venha a ser tomada.

Se tudo isto der em nada, se ficarmos a saber o mesmo que sabíamos no início…

Nós temos de ter a noção que há casos que nunca se deslindam.

Não são é tão mediáticos à escala global…

Não! Por exemplo, o caso do assassínio do Kennedy? E do Olaf Palm? Sabe-se quem foi? Não sabe. E certamente que quer os Estados Unidos quer a Suécia são países que dispõem de meios e de capacidades investigatórias superiores às nossas.

Aí estamos a falar de casos com forte incidência política, no caso Maddie estamos a falar de um caso criminal puro e duro, sem outras motivações, com outros contornos…

Pronto, voltemos aos casos criminais puros e duros ou que talvez não o sejam. Ainda hoje, o caso da princesa Diana, que se supõe que não terá conotações políticas… Há casos em todos os países, onde é difícil realmente chegar ao fim.

Está percebido o seu ponto. Mas a questão, desculpe insistir, é que, a certa altura, aquilo que se comunicou para o País através da comunicação social foi de uma clareza enorme: é que os pais de Maddie eram culpados.

Cá está o perigo das comunicações excessivas e das explicações excessivas quando ainda estamos em fase de apurar os factos. Eu compreendo que, designadamente da parte da polícia, não tanto dos tribunais, haja uma necessidade de, por vezes, uma relação mais estreita com a comunicação social. Porque a polícia desempenha dois papéis. Desempenha um papel no âmbito da investigação, que é apurar os factos, mas desempenha também um papel no âmbito da segurança, que é tentar tranquilizar a opinião pública relativamente à capacidade dissuasora do Estado de que sejam cometidos mais crimes. E, portanto, tem de haver, por vezes, sinais positivos e de confiança que as polícias têm de dar e que não têm a ver, exactamente, com a situação concreta dos tribunais, que se situam num outro plano. Mas também há que ter um cuidado bastante grande para que isso não funcione ao contrário a partir do momento em que o sentido desses sinais depois não se concretize.

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